Buda, aluno de Laozi?


Introdução
A chegada do Budismo na China pode ser rastreada por duas documentações distintas: uma proveniente da historiografia chinesa tradicional e outra, a literatura histórica budista chinesa. Contudo, as descrições da vinda dos budistas ao país, em ambas a fontes, são posteriores ao período Han, que se encerrou no início do século 3. A articulação política notável da rota da seda se evidenciou pelo dominó de impérios que caíram no século 3: a Pártia foi arruinada pelos Sassânidas, e a dinastia kushan também foi varrida do mapa. Somente Roma permaneceu, apesar dos percalços pelos quais passaria. Por essa razão, há uma grande distância histórica entre as fontes e as possíveis tradições ligadas à vinda do budismo ao país.

No Weishu (‘O Livro de Wei’, séc. 6), somos informados que a primeira visita oficial dos budistas a corte chinesa se deu durante o reinado do imperador Ming de Han (+58 a +75). O imperador teria autorizado a construção de um mosteiro na cidade de Luoyang, e mandou importar uma grande quantidade de textos e relíquias da Índia para estabelecer a religião no país.

Há alguns problemas evidentes no texto do Weishu. O primeiro deles é que não há nenhuma referência em fontes da própria dinastia Han sobre a chegada desses missionários, constituindo uma ausência notável. Essa observação pode ser relevada: afinal, a chegada dos budistas pode ter sido considerada como algo menos importante no período Han. Todavia, outros aspectos mais problemáticos se apresentam no texto do Weishu. O principal deles é a conflito patente que os chineses faziam (ou, que Weishou, redator do Weishu fez) entre a doutrina de Buda e a escola do antigo sábio chinês do século -6, Laozi. O próprio capítulo se chama ‘Shilaozhi’, que traduzido seria algo aproximado a ‘Registros do Buda (Foshi) e de Lao (Laozi)’, ou ainda, ‘Registros do budismo e do daoísmo’. Weishou buscava equilibrar-se diante de uma polêmica que assolava a China da época: a teoria da ‘conversão dos bárbaros’, que opunha budistas e daoístas perante a sociedade chinesa. Uma ampla campanha de calúnia e difamação se desenrolava entre as duas religiões; os daoístas, porém, resolveram investir na criação de um mito fundador para submeterem os budistas ao seu prestígio.  

A questão se devia a um antigo mito chinês envolvendo a figura de Laozi, associada à vinda do budismo para a China. Laozi fora o mítico fundador do Daoísmo, doutrina que pregava o desprendimento do mundo material por meio de um retorno a ‘natureza original humana’. Os daoístas defendiam que a cultura era uma corruptora da natureza humana, e por essa razão, o praticante do daoísmo deveria se dedicar a uma vida frugal e hedônica, seguindo um curso natural das coisas que era representado pela palavra ‘Dao’ (caminho, via, método). Laozi, desgostoso com a situação de sua época, teria subido no lombo de um búfalo e sumido nas terras do oeste. Antes de ir, porém, teria legado a um humilde guarda da fronteira seu sucinto livro, composto de apenas oitenta e um versos, chamado de Daodejing (Tratado do caminho e da virtude). O Daodejing é o texto fundador do daoísmo filosófico. Desde então, o daoísmo se desenvolvera na China, mas acabou se dividindo em dois movimentos distintos: o daoísmo filosófico (daojia) e o daoísmo religioso (daojiao), que se aproximou da antiga religiosidade popular chinesa e construiu toda uma nova religião a partir disso.

Por essa razão, quando o budismo chegou à China, ele encontrou um daoísmo bem organizado, com diversas comunidades espalhadas pelo país. O daoísmo religioso era bem diferente do filosófico: enquanto os filósofos daoístas procuravam manter o ideal de Laozi, e já estavam bastante diminuídos em número durante a dinastia Han, o daoísmo religioso se destacou por procurar outras formas de compreender o ‘dao da natureza’. A principal delas era a busca da imortalidade por meio de uma rica e complexa alquimia, que envolvia a devoção a inúmeras deidades, a criação de uma vasta farmacopéia mágica, e rituais diversos de exorcismo e mediunidade. Todavia, o daoísmo não fora capaz de fazer frente a elaborada metafísica budista, e vinha perdendo terreno nos debates religiosos. Além disso, o daoísmo religioso era iniciático, afastando as pessoas comuns de suas práticas, enquanto o budismo era proselitista, o que abria uma nova perspectiva no pensamento religioso chinês.

Em função disso, o daoísmo se viu enfraquecido, a partir do séc. 3, diante do poder e da sociedade. Os daoístas sentiram a necessidade de reagir ao fortalecimento dos budistas, e criaram, a partir da história de Laozi, a teoria (mítica) conhecida como ‘Conversão dos bárbaros’. E no que ela consistia? O primeiro argumento era de que o budismo seria a doutrina de Laozi, que retornava a China! Na mentalidade chinesa, pois, Laozi teria ido para a Índia, continuara ensinando, e o budismo seria uma derivação do daoísmo. Ele teria ‘convertido os bárbaros’ (da Índia e da Ásia central), e o budismo seria meramente uma manifestação inferior e apelativa do daoísmo.

Essa polêmica se concretizou na escrita do Huahujing, ou Tratado sobre a Conversão dos Bárbaros, provavelmente escrito no séc. 4 por Wangfu, um sacerdote daoísta que já havia perdido inúmeros debates para os budistas. O que apresento aqui nessa tradução, pois, é a introdução do Huahujing, contando a fabulosa história de como Laozi teria ensinado o budismo (e mesmo, de como um dos discípulos de Laozi teria sido o próprio Sidarta Gautama). O texto traz Laozi como um verdadeiro deus, muito diferente do filósofo antigo, que encarna diversas vezes no mundo terreno, desde a antiguidade, para salvar o mundo.

Curiosamente, essa primeira parte não é apresentada em nenhuma versão do Huahujing disponível em português. Ela é fabulosa, por pretender que confucionismo, budismo, e até mesmo o maniqueísmo, são derivados dos ‘ensinamentos secretos do Dao’. Um artigo meu está para ser publicado em breve sobre o tema!

Uma boa (e curiosa) leitura!

O Texto

Naqueles dias, no reinado de Tangjia da Dinastia Yin (-1408 a -1401), o venerável senhor do Céu desceu ao reino do eterno Dao. Ele usou uma nuvem feita de três energias e caminhou sobre o sol. Seguindo os nove raios solares, ele entrou na boca da Misteriosa e maravilhosa Donzela de Jade. Escondeu-se em seu ventre, e lá tomou forma humana.

No 15º dia do 2º mês do ano Gengchen, ele nasceu em Bo. Nove dragões aspergiram água sobre ele para lavar seu corpo, e depois se transformaram em nove nascentes. Naquele tempo, o Senhor venerável tinha cabelo branco. Ele foi capaz de andar logo depois de nascer. Uma flor de lótus nascia no chão a cada passo que ele dava. Após nove passos, ele apontou para o céu com a mão esquerda, para a terra com a mão direita e anunciou ao povo: ‘No céu acima, na terra abaixo, somente eu sou o Venerável que pode revelar a lei maior do Dao. Vim salvar todas as coisas que se movem e crescem, e todos os seres vivos. Vou andar pelas dez direções e chegar nas prisões obscuras dos submundos. Vou levar todos aqueles que ainda não estão salvos, e os que se perderam no caminho da salvação’.

Ele tomou uma aparência invisível para a humanidade, e atuou como mestre em todas as dinastias. Ele é o Taiji (último supremo), e o mais alto entre os deuses e imortais.

Quando nasceu, ele tinha um corpo naturalmente bonito. Estava vestido com roupas celestiais, emanava uma fragrância divina e uma luz solar brilhante irradiava dele. Em nove dias, seu corpo cresceu nove pés. Todos ao seu redor ficaram assustados e surpresos, mas o reconheceram como sábio.

Desde que ele nasceu, já tinha a aparência de um idoso. Por isso ele foi chamado de Laozi, ‘Criança velha’.* Os deuses do Céu, porém, o louvam com dez títulos diferentes. São eles:

Venerável Senhor Maior,
Venerável espírito perfeito e sabedoria do não-ser,
Mestre de imperadores e reis,
Grande oficial
Grande venerável entre os imortais
Pai dos seres celestiais
O maior da não-ação
Mestre benevolente da grande compaixão
Celeste venerável do princípio primordial
Criança velha
*’Zi’ significa tanto ‘criança’ quanto ‘sábio’ na China Antiga.

A queda de da Dinastia Zhou

Laozi concentrou seu espírito e encobriu seus rastros. Converteu todos os povos abaixo do céu e explicou-lhes o essencial, bem como os métodos de auto-cultivo.

Mas depois de mais de cem anos, o caminho dos reis declinou. Muitas pessoas boas e sábias morreram, e foram cometidas atrocidades. Os ministros fiéis que tentaram protestar foram executados. O céu enviou incêndios e inundações como aviso, mas os reis não entendiam. Assim, a crise se prolongou por vários anos. O fim de Zhou era iminente.

No reinado de Kang (-1078 a -1052), ele se juntou aos funcionários comuns para ocultar sua presença e esconder seu nome, tornando-se um dos arquivistas de Zhou. Assim, ele poderia continuar servindo como professor. Então, sob o reinado de Zhao (-1052 a -1001), ele finalmente decidiu ir para o Oeste.

Revelação

Ao atravessar o passo de Hangu, ele transmitiu o Daodejing (Tratado do Caminho e da Virtude), o Xishengjing (Tratado da Ascensão do Oeste) e outros textos sagrados para Yinxi (guardião da passagem). Além disso, ele o ensinou os métodos da Grande Iluminação, o verdadeiro segredo das Três cavernas, os talismãs e os diagramas dos Tesouros Numinoso, a aplicação do Grande Mistério e outros caminhos secretos. Ele ordenou a Yinxi que ensinasse as pessoas com a maior pureza e humanidade possível, para que elas pudessem se transformar e alcançar a imortalidade do espírito. Ele ordenou que a transmissão nunca fosse interrompida.

Com isso, ele foi para Oeste. Passou pelos desertos de areia e chegou à cidade de Bimo, na terra de Kothan. Nesse momento, ele convocou todos os Tathagatas* e seus seguidores. Eles apareceram num instante. Vieram: o Mestre do Pinho Vermelho, o Mestre do Centro Amarelo, o Rei Celestial do Princípio Primordial, a Grande Deusa, a Donzela de Jade dos Seis Ramos Celestiais, o Divino Senhor dos Oito Trigramas, os Senhores do Dragão e do Tigre, e um grande número de funcionários celestes de alto nível. Além deles, havia também os cavalheiros da carruagem dourada, os radiantes benevolentes, os funcionários do céu e da terra, bem como os governantes da água e do ar, do sol e da lua, das montanhas e do mar. Os governantes do yin e do yang, da madeira, do metal, do fogo, da terra e da água, e os deuses das cinco montanhas sagradas, dos quatro rios sagrados, estavam todos lá, e muitos outros mais foram juntos.

Também estiveram presentes os potentados dos troncos celestes, os generais das constelações, os reis divinos do céu voador, inúmeros imortais e donzelas de jade. Ao todo, contavam mais de cem mil deles.

Eles vieram em nuvens, puxadas por dragões voadores, ou flutuando livremente através do ar. O senhor Venerável tomou então seu lugar atrás de uma cortina de jade. Lá, sentou-se no trono dos setes tesouros. Seus servos queimavam incenso, e uma centena de melodias e flores perfumadas se dispersava no meio da multidão. Música celestial era tocada com grande habilidade por sábios celestes, e gente de todas as partes do céu veio se aglomerar em torno dele.
*’Aqueles que assim são’, termo que Buda utilizava para definir alguém desperto, com consciência de seu estado de transitoriedade.

A conversão dos bárbaros

Usando seus poderes divinos, ele convocou então todos os reis bárbaros. Eles vieram de todas as partes, de longe e de perto. Havia inúmeros reis e nobres. Todos eles vieram com suas esposas e concubinas, famílias e dependentes. Eles se reuniram em torno do Senhor Venerável, a fim de ouvir sua lei. Nesse momento, o Senhor Venerável se dirigiu aos assombrados reis bárbaros: ‘seus corações estão cheio de maldade. Vocês se envolvem em mortes e outras coisas perniciosas. Vocês se alimentam apenas de carne e sangue, e cortam inúmeras vidas. Hoje, vou dar-lhes o Tratado dos Demônios Yaksa. Irei proibir o consumo de carne entre vocês, e deixá-los com uma dieta de mingau e trigo. Tomem cuidado com as violências e matanças. Aqueles entre vocês que sucumbir, tornar-se-á carne morta! Vocês, bárbaros, são gananciosos e cruéis. Vocês não sabem a diferença entre parentes e estranhos. Vocês só buscam satisfazer sua ganância e depravação. Não há qualquer traço de piedade ou de moral dentro de vocês. Olhem pra vocês: seus cabelos e barbas estão todos desgrenhados. Como vocês se lavam e se penteiam? Mesmo de longe é possível sentir seu cheiro repugnante. Bah! Seus corpos são imundos!

Por isso, agora que vocês irão cultivar o Dao, eu os orientarei a evitar aborrecimentos com sua prática. Raspem seus cabelos e barbas. Seus costumes nativos os ensinam a usar roupas de pele e feltro, mas eu os ensinarei a usar roupas tecidas. Eu os ensinarei o pequeno caminho, e aos poucos seus costumes melhorarão. Além disso, vou dar-lhes uma série de preceitos e proibições, e com elas vocês aprenderão aos poucos o que é misericórdia e compaixão. No 15º dia de cada mês, vocês devem meditar e se arrepender de seus pecados’.

A origem do budismo

Depois de ter dito essas coisas, o Senhor Venerável, por meio de seus poderes divinos, transformou-se na forma de Buda e veio andando através do ar. Seu corpo tinha dezesseis metros de altura e irradiava um brilho dourado. Seu rosto, sempre voltado para o Leste, revelava sua origem. Isso, segundo o Senhor Venerável explicou, era para mostrar que ela viera do Leste para ensinar. Todos que olhavam para ele sentiam despertar, em seus corações, a compaixão e o altruísmo. Então ele disse: ‘todos vocês, povo e reis, terão a imagem de meu rosto para adorar todas as manhãs. Voltem-se para o Leste, isso é o mais apropriado para saberem sobre mim’.

Não muito tempo depois, ele atravessou as montanhas Belaturga (Turquestão). Nas montanhas, havia um lago profundo, no qual habitavam dragões peçonhentos. Eles já haviam atacado inúmeros viajantes e mercadores que acampavam perto do lago. Nenhum deles sobreviveu.

Ele disse: ‘Eu, então, envio o rei Koban, governante dessa terra, para levar o Dao até eles’. Chegando a beira do lago, ele pregou a lei, e os dragões tiveram medo e foram reverentes. Transformaram-se em humanos, pediram desculpas sinceras por seus antigos erros e imploraram ao rei que os levassem para morar em outro lugar. Eles não desejavam prejudicar mais ninguém ali. E assim, ninguém mais foi atacado naquela região.

Indo para o sul, o Senhor Venerável chegou em Wuchang. Perambulou pelos cinco céus, e entrou no país de Magadha. Suas roupas eram brancas, e levava um pote vazio na mão. Sentou-se em posição de meditação, e estabeleceu os ensinamentos budistas. Foi chamado de Buda da Pureza. Todos os Xátrias, Brâmanes*, e o restante do povo o adoravam, e buscavam atingir o Dao da mais elevada ordem e perfeição.
*Castas Indianas. Xátrias eram guerreiros, os Brâmanes eram os sacerdotes.

Viagem do Oriente ao Ocidente

[Conta o Senhor Venerável]: ‘Depois de duzentos e quarenta anos, sob o reinado de Mu (-1001 a -946), voltei para o Reino Médio de Xia (China). Fui até o outro lado da terra e adentrei o mar do Leste. Fui a lugares longínquos como as ilhas dos imortais Penglai e Fangzhang, e cheguei até a árvore do sol Fusang.
Por algum tempo, fiquei na residência do Grande Imperador dos Céus. Ali, organizei as ordens dos imortais e estabeleci sua hierarquia. Após o reinado de mais oito reis, duzentos e quarenta anos igualmente se passaram, e veio o período obscuro do rei You. Quando a estrela do ano estava sobre Xinyou (-780), as águas dos três grandes rios se agitaram. Esse foi o sinal de que em breve o reinado terminaria, e que seu ciclo havia chegado ao fim. Nada podia ser feito.

Assim, eu fui novamente para o Oeste, ensinando e convertendo todas as terras. Desta vez, fui em direção ao mar ocidental, indo até os longínquos continente-das-cavernas, continente-que-flutua e no continente-dos-unicórnios. Convoquei os espíritos imortais das dez direções, incluindo seus superiores, bem como aqueles que tinham apenas alcançado o Dao. Também chamei os governantes do submundo, assim como todos aqueles que não haviam recebido meus ensinamentos. Havia também os imortais flutuantes dispersos, bem como os humanos cuja piedade e lealdade alcançaram a extrema perfeição. Guiei todos eles para a salvação. Avaliei mais de oitenta mil seres de acordo com seus méritos e virtudes. Eu avaliava seus créditos e dívidas espirituais, e lhes atribuía uma posição numa escala de cinco graus. Eu dividi os seres celestes em vinte e sete classificações, separando-os por imortais, iluminados ou sábios. Além disso, eu os distribui pela terra, para que residissem nas montanhas sagradas, nos rios ou nos três céus. Assim, todos foram postos em ordem.

O Buda Histórico

Outros sessenta anos se passaram. Sob o reinado de Huan (-700), com a estrela do ano em Jiazi, eu pedi a Yinxi que caminhasse sob a essência lunar e descesse até a Índia. Lá, ele entrou na boca da esposa do rei Suddhodana. Ficou dentro dela até nascer como humano, e seu nome foi Siddharta. Rejeitou sua posição de príncipe herdeiro, e foi para as montanhas cultivar o Dao. Ele percebeu o Dao maior, e foi chamado devidamente de ‘Buda’ [iluminado]. Ele então definiu os doze preceitos do Siddha, e transmitiu seus ensinamentos em trinta mil palavras. Explicou as escrituras em detalhes, e continuou a buscar o Dao maior. Ele também destruiu as seitas divergentes, noventa e seis ao todo. Com pouco mais de setenta anos, ele mostrou o nirvana ao mundo.

Ensinando Confúcio

No tempo do rei Xiang (-600), com a estrela do ano em Yiyu, mais uma vez, voltei à China. Ensinei e converti os povos do mundo, e dei a Confúcio sua lei de ritos e justiça. Quando esse rei chegou aos sessenta anos de vida, o país se dividiu e teve que mudar a capital. Esse rei não tinha virtude alguma. Por isso, subi ao monte Kunlun e voei até o Céu de suave púrpura. Distribui minhas energias pelos três mundos, nutrindo-os de modo igual.

Maniqueu

Mais quatrocentos e cinqüenta anos se passaram. Eu caminhava na radiante energia do Dao espontâneo, e desci do mundo de perfeição e serenidade para um país chamado Sulin, no mundo de jade ocidental. Nasci numa família real, e me tornei príncipe herdeiro. Mas deixei minha família e posição para adentrar o mundo do Dao. Fui então chamado de Mani. Girei a roda da lei, proclamei a verdadeira lei dos preceitos e regras, da meditação e da sabedoria.

Assim, eu apareci três vezes e estabeleci dois caminhos diferentes para ensinar, e finalmente tinha convertido todas as pessoas do mundo. Então, eu deixei que as pessoas soubessem quem eu era, e que o tempo havia chegado. Eu subiria ao mundo da luz, e desceria ao mundo das trevas. Onde quer que haja vida, ela me seguiria e seria salva.

Futuro

Depois de minha vida como Mani, mais quatrocentos e cinquenta anos se passaram. Então, minha energia dourada voltará a florescer, e minha lei ressurgirá em toda sua plenitude. Surgirei vindo do oeste, com uma imagem sábia, vestido com uma espontaneidade pura e multicolorida, e mais uma vez voltarei à China. Quando isso acontecer, devido a esse esforço maravilhoso, o amarelo e o branco vão se harmonizar, e os três ensinamentos vão se reunir e tornar-se iguais. Todas as pessoas se unirão a mim, me adorando nos templos e capelas de meditação.

Quando o caule encontra com a raiz, todos os ensinamentos compartilham dos mesmos saberes. Todos eles revelam a magnânima e venerável lei do Sábio dos Últimos Dias da Grande Claridade.

Os daoístas do Reino Médio deverão, então, explicar as leis da causa e efeito com todos os detalhes. Eles vão fornecer o bote salva-vidas da vasta e abrangente Lei. Através dela, todas as coisas que se movem e que crescem, tudo o que contém energia, todos deverão ser levados à salvação. Esse ensinamento será conhecido, finalmente, como a ‘Grande Lei da Vastidão que a Tudo Engloba’.

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