Ensaio de Oito Partes

Durante a dinastia Ming, os intelectuais confucionistas desenvolveram o baguwen, ou "Ensaio de oito partes", um modelo de redação para as provas do exame imperial, e usualmente utilizado para o desenvolvimento de artigos reflexivos. O sistema do baguwen propunha uma metodologia de escrita sintética, cujos objetivos eram o esforço de concisão, aliado a proposição de idéias ou dissertação sobre o tema. O baguwen buscava concretizar o ideal de expressão confucionista: poucas palavras representando uma reflexão profunda, sobre um assunto pré-determinado, em geral extraído da literatura letrada.

A concepção original deste método acabou sendo deturpada, em função de arcaísmos e fórmulas pré-estabelecidas. Ao invés de estimular um raciocínio objetivo e esclarecido, a burocracia dos exames imperias privilegiou a observação de aspectos formais e estilísticos, em detrimento dos conteúdos.

No entanto, acredito que este método poderia ser resgatado - e adaptado - para a (re)criação de um modelo de escrita confucionista. O que proponho, aqui, é um novo tipo de "ensasio de oito partes", que doravante empregarei na produção dos artigos aqui presentes.

O Ensaio de Oito Partes

1) Abertura: escolher uma fonte ou fragmento que denote o que será analisado no ensaio, e que conecte ao título do mesmo. Pode ser um trecho de Confúcio ouum outro qualquer, que ajude na interpretação do texto.

2) Apresentação do fragmento: apresentar o texto, frase ou parte do texto que será analisado. Pode ser, igualmente, uma imagem, se o ensaio se trata de uma análise iconográfica.

3) Apresentação do problema: discutir a questão que se apresenta neste fragmento, e que se pretende analisar.

4) O comentário confucionista: apresentar a contraparte confucionista do assunto escolhido, que o coloca em reflexão.

5) Articulação da discussão do problema, do fragmento e do comentário confucionista, apontando a idéia central.

6) Comentário final do autor do ensaio.

7) Conlusão reflexiva do texto.

8) Fragmento confucionista que dê fecho ao texto, e que se articule ao restante da análise do mesmo.

O corpo central do texto (3, 4, 5, 6 e 7) deve conter em torno de 512 palavras, de modo a estimular a síntese apropriada, a meditação correta e centrada no tema definido e, por fim, a escolha cuidadosa das palavras empregadas na redação.

Que o "ensaio de oito partes" aqui proposto seja um método estimulante para a escrita, e não uma prisão para o raciocínio. Desvinculado de testes governamentais, ou de uma aferição superficialmente funcional - que determine por antecipação um simples cumprimento de regras estilísticas - esta proposta constitui um desafio para o raciocínio histórico e filosófico, de modo a torná-lo mais coerente e objetivo, cuja única aprovação esperada é aquela, somente, dos leitores críticos.

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