O Mestre do Cajado

Um aprendiz foi ate o meio do mato, bem no alto de uma montanha, procurar a caverna onde morava o sábio do cajado. Estava cheio de dúvidas, e precisava esclarecê-las com alguém que fosse reconhecidamente sábio ou iluminado.

Depois de um dia de caminhada extenuante, sempre para cima, e de mais algumas horas no meio da selva, ele chega até a borda da caverna. De uma certa distância, encontra um homem sentado a frente da caverna, com uma espécie de cabo ou cajado na mão. Era ele! Humildemente ele se aproximou, sendo notado pelo homem, que nem mesmo se mexeu só o acompanhou com os olhos, deixou que ele se instalasse, e continuou a observar a paisagem.

O aprendiz, curioso, não se conteve de alegria, e começou a conversa tão aguardada;

Mestre, posso lhe fazer uma pergunta?

Ele sorriu com um olhar abobado, meio de lado, e deu nos ombros.

“Que pergunta estúpida a minha”, pensou o discípulo. “Devo ser mais direto”. - mestre, obrigado. Diga-me: devo me preocupar mais com o que sou o com o que estou?

Um novo sorriso matreiro, acompanhado de uma mudez total e de um balanço de cabeça que parecia fazer pouco da questão, foi tudo que ele respondeu.

Mestre, não compreendi; como isso não pode ser importante? Minha dúvida é que estamos vivos, mas não sabemos se continuaremos vivos depois, e se somos um corpo com alma ou uma alma com corpo. Se eu estou vivo agora, devo me ater somente a isso? Ou devo conduzir minha vida por um futuro provável, mas duvidoso?

O homem continuava impassível e calmo, como se não tivesse ouvido nada. O Maximo que fez foi, novamente, dar um sorrizinho, levantar os ombros e olhar pro lado.

O aprendiz já ficava bravo, quando começou a pensar: “ah! talvez o mestre esteja me testando. ele não faz isso por mal, pois é um sábio; eu estou agindo como tolo! o que ele quer dizer quando diz que minha questão não tem importância? vamos raciocinar: se o que estou é o que é, agora, como posso querer ser outra coisa que ainda não estou - ou seja, como posso basear minha vida numa perspectiva que não sei se existe? por outro lado, se ela existe, fatalmente eu a descobrirei; se suas regras forem as mesmas daqui, então, terei feito o adequado; se forem diferentes, então nada do que eu faça aqui fará diferença apos minha morte. logo, o importante sempre é viver como se está. pois quem está É, e o que não está, não é. isso é genial!

Então, o aprendiz virou para o mestre e disse:

Mestre, compreendo agora; toda duvida traz em si a própria resposta, não é?

Uns dentinhos amarelos, de lado, foram a resposta.
O aprendiz sentiu-se iluminado pelas sábias respostas, e que a energia do universo entrava-lhe no corpo e lhe dava uma sensação de libertação e paz absolutas. Dispôs-se então a continuar este fértil dialogo quando apareceu, de repente, um velho homem, com um logo caniço na mão e uma cesta de frutas, e se apresentou:

Mil desculpas, não sabia que teríamos visitas! Sou o mestre do cajado, e este que está com você é meu servo mudo e abobado, Xabu. Espero que ele não o tenha irritado muito. Posso ajudá-lo em alguma coisa?

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